Elizabeth Teixeira
"Mulher marcada pra viver"
Neste 8 de março, dia internacional da mulher, trazemos histórias de mulheres símbolos de luta e resistência, que buscam seus direitos e os direitos dos seus incansavelmente. Além de serem líderes e referências para muitas mulheres no que fazem e no que já fizeram, como é o caso de Elizabeth Teixeira.
Hoje com 95 anos, Elizabeth nasceu em fevereiro de 1925, no município de Sapé, Paraíba. A militante é um dos rostos mais fortes da luta pela terra no Brasil. Tendo o pai fazendeiro e comerciante, ela frequentou a escola, aprendeu o básico, mas não terminou. Saindo da escola, foi trabalhar na mercearia do pai, onde conheceu João Pedro Teixeira, que se tornou seu marido. João Pedro era líder da liga dos camponeses e camponesas, e em 1962, foi brutalmente assassinado em uma emboscada preparada por pistoleiros.
Elizabeth então assumiu a liderança das ligas com o objetivo de continuar a luta de seu marido. Após o assassinato do seu companheiro, recusou o convite de Fidel Castro para viver em Cuba com seus filhos para dar continuidade à luta pela Reforma Agrária. Foi presa por várias vezes e, numa delas, retorna da cadeia e se depara com a tragédia do suicídio da filha mais velha, que não suportou conviver com a possibilidade de a mãe ter o mesmo destino do pai. Em 1964, com a instalação do regime Militar, Elizabeth foi presa pelo Exército e passou oito meses na cadeia. Na soltura, precisou fugir para não ser morta. Mudou de cidade e nome, com apenas 1 dos 11 filhos.
A líder camponesa sempre falava com as pessoas sobre a situação de pobreza e a falta da Reforma Agrária, chegou até a conversar com o Presidente do Sindicato Rural de São Rafael sobre a situação do povo do campo, mas ninguém sabia que ela era a viúva de João Pedro. Foi no ano de 1981 que aconteceu o encontro entre ela e o cineasta Eduardo Coutinho, que a encontrou com a ajuda de seu filho, Abrahão, após uma longa peregrinação. Ela abandonou a vida clandestina, assumiu seu verdadeiro nome e voltou para João Pessoa onde vive até os dias atuais.
Elizabeth lutou e continua para que o trabalhador do campo tenha direito a terra, para ele e a família trabalharem. Abraçando todos os dias a ideia que plantou junto a seu marido, acreditando cada dia mais nessa luta. Nas suas palavras: “Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses, dos operários, das mulheres, dos estudantes e de todos aqueles que são oprimidos e explorados. Não pode parar”. Em Sapé, cidade natal de Elizabeth, o povo do campo costuma dizer que ela é a Mulher marcada pra viver.
Elizabeth, que sua história seja sempre lembrada como símbolo vivo de resistência e luta.
Célia Cristina
Referência de liderança e resistência
Hoje celebramos também a mulher que luta por visibilidade, que luta pelos seus, que luta para manter a história de seu povo: Mulheres Quilombolas.
Célia Cristina da Silva Pinto nasceu em São Luís, no Maranhão, mas retornou ao Quilombo de onde seus pais eram originários para ser criada. Antes o pai morava no Quilombo Nazaré e a mãe no Quilombo Soledade. Em 1990, em Cururupu, Célia fundou o Grupo de Consciência Negra onde começou a atuar no movimento negro. Dedicou toda sua vida a essa militância. Fez magistério, mas para ser educadora popular fugindo um pouco do ensino mais formal e tradicional.
Ao vivenciar a rotina de comunidades negras do Maranhão, a líder quilombola percebeu que o racismo estava por trás da dificuldade dessas populações terem acesso às políticas públicas e melhores condições de vida.
Célia passou a perceber que a exclusão tinha a ver com a identidade racial. Ela conta que “Em Cururupu, a maioria absoluta da população é negra, mas comunidades não negras conseguiam acesso à energia, por exemplo, enquanto a maioria, que é negra e define a população, não.” Célia começou a participar do movimento negro visitando comunidades quilombolas para discutir temas que fortalecem a identidade racial na luta por políticas públicas.
A primeira coisa que Célia buscou mudar foi acabar com a invisibilidade sobre a existência dos quilombos. Hoje, atua nacionalmente. Mesmo que o acesso às políticas públicas ainda seja incipiente, ninguém mais diz que não há comunidades quilombolas. E essa falta de acesso é causada pelo racismo estrutural do Brasil, que dificulta que determinados serviços cheguem a quem precisa.
Entre as conquistas do seu trabalho para com a comunidade Quilombola, encontramos ganhos importantíssimos como a educação escolar quilombola, saúde integral da população negra e o Programa Brasil Quilombola. Também alcançaram bolsa permanência para que jovens quilombolas tivessem acesso à universidade e cotas em universidades no Pará, Bahia, Paraná e que hoje já é realidade em muitas Universidades pelo Brasil.
Enfrentando a invisibilidade e as estatísticas, as mulheres quilombolas brasileiras seguem em busca de políticas pública e garantia de seus territórios e se tornam, a partir de toda essa luta, referência de liderança e resistência para combater a invisibilidade e a desigualdade.
A todas, um feliz dia internacional da mulher.